A Canteira Brasileira
- Júlio Moredo
- 22 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
É fato consumado que o futebol paulista, perdoem-me o aparente bairrismo, tem as melhores categorias de base do país mais glorificado pelo esporte bretão. Isso é nítido se passarmos pelos nomes que começaram nos quatro grandes do estado, na minha querida Portuguesa ou ainda nos celeiros interioranos como Guarani, Ponte Preta, Botafogo de Ribeirão, Comercial, Bragantino e tantos, tantos outros. É na Paulicéia que nosso futebol surgiu, se desenvolveu e se aperfeiçoa, produzindo os maiores craques e times que o Brasil viu e, ainda hoje, com todas as dificuldades, corrupções e atrasos, ainda vê.

Mas nesta gigante fábrica de boleiros quem dá (mais) bola é o Santos. Único dos supracitados situado no litoral, na histórica e riquíssima cidade com o maior porto da América Latina e de todo o Hemisfério Sul. Que a praça e região mereciam um time deste calibre é ponto pacífico, contudo os feitos do Peixe romperam barreiras globais e ostentam, graças ao nosso Rei do futebol, um palmarés invejoso de conquistas nacionais e internacionais dificilmente igualados.

Tendo isto tudo em vista, a questão principal é: Por que o Santos é o que é até hoje? Daria para ser ainda maior não fossem as barbeiragens políticas? Ou será que ele é, sim, um prodígio desportivo se consegue ombrear com times de muito mais massa adepta de centros maiores como São Paulo e Rio de Janeiro?
O nono lugar atual na classificação do Brasileirão (mesmo vencendo no último domingo um gigante San-São) e suas participações medíocres em todos os recentes certames parecem dar razão à primeira tese. Desde o consulado glorioso do falecido Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro que o time da Belmiro vem colecionando figurações e resultados não condizentes com seu histórico, mesmo se levando em conta a ida quase miraculosa na mais recente final da Libertadores, naturalmente perdida contra o Palmeiras, outro rival, muito mais endinheirado e aportado.
Esta última grande participação santista é, inclusive, prova cabal do que meu texto hoje quer provar: Que a equipe da cidade que acolheu imigrantes e traz o mundo ao Brasil por seus atracadouros ainda resiste competitiva graças à sua brilhante categoria de base e a despeito de tantos desmandos e erros de direção que, combinados à falta de torcida e de se estar fora de uma metrópole só se agravam.

Basta lembrar que, nem citando Neymar, maior craque brasileiro desde Ronaldinho Gaúcho, o time da Baixada produziu ou lapidou em escala quase de varejo bons jogadores como Felipe Anderson, Lucas Lima, Marinho, Gabigol, Lucas Veríssimo e Emerson Palmieri, todos estes atuando ou na Europa ou em grandes clubes brasileiros.
O feito santista fica então claro quando fazemos este rápido exercício de regressão e lógica e constatarmos que um clube que tinha tendências à várzea no início de sua historia segue colocando talento na roda do nosso carente futebol de modo notável. Assim o Santos se supera preservando uma estabilidade competitiva para ao menos c permanecer ano a ano na Série A (o time nunca foi rebaixado, feito só igualado por São Paulo e Flamengo). E tudo isso apesar da tacanhice de seus cartolas.

Se citamos sempre centros de formação e escolas de futebol do calibre das de clubes como o holandês Ajax, o alemão Bayern de Munique, o português Sporting, o inglês Everton ou o catalão Barcelona, talvez o mais famoso de todos, temos também a obrigação de incluir o Santos nesta lista. É ele que, com parcos recursos, corrupção e verba mirrada consegue fornecer talentos que cooperam para a manutenção de um ideal de jogo tão brasileiro, que resiste e espera mostrar-se ao Mundo com um hexacampeonato, talvez no Catar, quem sabe? Somos o Escrete e não há sete a um que se eternize ou suplante-nos!

É impossível torcer contra uma camisa tão gloriosa e histórica como a santista (como torcedor da Lusa, sobrariam motivos para dizer o contrário, de erros de arbitragem a um título mal dividido contra Pelé e tudo). Por isso desejo minha sincera boa sorte nesta caminhada no rumo da manutenção na Série A deste ano (o time não dará pra mais). Os gols de Mário Sérgio e Gabriel Pirani podem ser um bom começo para isso.

Preservemos os maiores guardiões de nosso jeito de jogar bola. E o Santos FC está na vanguarda desta lista de patrimônios.
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