Noites Brancas - O passeio oculto do amor solitário
- Júlio Moredo
- 10 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Novela maravilhosa criada pelo magistral prosador da nostalgia melancólica, Noites Brancas é quase uma confissão sentimental combinada a um pedido carente de amor dado pelo próprio Dostoiévski neste ensaio sobre como amar e (não ser) correspondido

Noites Brancas é um livro jovial do então juvenil engenheiro, jornalista e filósofo russo Fiódor Dostoievsky.
A obra se passa na cidade em que o autor viveu boa parte de sua vida, São Petersburgo, então capital da Rússia czarina, e retrata a rotina de um homem excêntrico e antissocial que vive nas ruas como um andarilho (conversa mentalmente até com os prédios) e sua maltratada casa, onde espanta com perguntas existenciais os raros visitantes.
Com uma brilhante capacidade dialógica e descritiva, Fiódor narra e vive em primeira pessoa as angústias de um jovem de 26 anos (idade com que ele estava na publicação do livro, em 1846) à procura de sua essência sentimental em meio à solidão da cidade imperial.
A novela se desenrola no interlúdio de quatro noites que têm inicio a partir do encontro casual do protagonista com Nastienhka, uma tristonha adolescente que vive presa às saias (literais) da avó e prometeu seu coração a um galante inquilino de seu imóvel.
Às margens do rio Neva, ambos debaterão os mistérios de seus corações e revelarão seus mais íntimos sonhos de felicidade, tornando-se confessores mútuos, numa mistura de amor e companheirismo incondicionais.
“Como o amor exalta o coração! É como se ele, todo inteiro, se derramasse dentro de outro coração e desejássemos que toda a gente se sentisse feliz e sorrisse à nossa volta! Como é contagiosa esta alegria. Ontem havia nas suas palavras tanta ternura e no seu coração tanta bondade para mim...” (Fiódor-Narrador, trecho do livro)
O rapaz, queixoso de uma sociedade excludente e individualista, canaliza na moça suas expectativas de viver o júbilo e o flagelo de uma paixão, confidenciando seus sonhos e desejos.
A partir daí a dupla passa a se encontrar no mesmo local da primeira vez, criando uma relação que permeia o piegas, a meiguice e a ingenuidade de quem viveu totalmente sozinho ou à espera da pessoa amada.
A trama é envolvente e atemporal, banhada a interações profundas entre o casal principal, acabando por se transformar em um ensaio sobre a dor, melancolia, carência e ternura nas relações amorosas, que guia o leitor ao seu próprio intimo para questionar a até que ponto é possível reclamar a afeição de alguém e, acima de tudo, ser amado e merecedor de um coração de maneira recíproca.
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